Enedina, Sônia e Elza
Acervo/Arquivo Público Municipal Maria da Glória Foohs
Você já ouviu falar da Enedina Alves Marques? Ela foi a primeira mulher negra formada em engenharia no Brasil. Nascida em janeiro de 1913, filha de pais escravizados libertos, ela se formou na Universidade Federal do Paraná (1945) em meio a muitos preconceitos.
A destacada carreira de Enedina Marques envolve sua atuação na Secretaria Estadual de Transportes e Obras Públicas e na Secretaria Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná.
Veja também: Mãos à obra: a trajetória de Enedina Alves Marques
E o que mudou dos tempos de Enedina até hoje?
Mulheres na ciência
Ainda hoje, as mulheres, e sobretudo mulheres negras, enfrentam uma série de desafios e desigualdades nas carreiras científicas.
Relatório divulgado no ano passado pelo British Council, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mostra que as mulheres representam quase a metade, 46%, do total de pesquisadores nos países da América Latina e do Caribe. Com isso, a região conquistou, na última década, a paridade de gênero na ciência. Mesmo nesse cenário, meninas e mulheres ainda enfrentam uma série de desigualdades no que diz respeito ao acesso a temas científicos, além de sofrerem preconceito e violência de gênero nesses países.
Quando considerados apenas os estudos em STEM, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática, a desigualdade aumenta. O estudo mostra que a porcentagem de mulheres investigadoras que trabalham em engenharia e tecnologia na região é muito mais baixa do que a dos homens. Em alguns países, como Bolívia e Peru, essa porcentagem é inferior a 20%.
Em relação à desigualdade racial no ensino superior, texto publicado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que jovens brancos e amarelos passaram de ter 2,8 vezes mais chances de estarem matriculados no ensino superior público que jovens pretos, pardos e indígenas em 2001, para 1,6 vezes mais chances em 2021.
“Entretanto, é preciso dizer que brancos e amarelos ainda têm um peso maior no ensino superior público do que pretos, pardos e indígenas, o que nos coloca ainda longe de um estágio de equidade que permita cogitar o fim das cotas raciais”, diz o texto.
Fonte: Agência Brasil
Sônia Guimarães
Começamos falando de Enedina Alves Marques, primeira engenheira negra do Brasil, e terminamos exaltando Sônia Guimarães, primeira mulher negra doutora em física no Brasil e primeira professora negra do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Primeira. Primeira. Primeira. Sim, mais uma vez estamos mencionando uma pioneira, o que é uma vergonha, como a própria Sônia afirmou ao defender a importância das cotas:
Essa história de eu ser a primeira física, 101 anos depois da abolição, é uma vergonha [para o país]. Se vivêssemos numa democracia racial, como dizem, teria sido outra e bem antes de mim"... (Fonte: UOL)
Certa vez, em entrevista, Sônia Guimarães disse que “o futuro da ciência é ancestral”:
Há seis mil anos, os africanos já usavam códigos que eles chamavam de Ifás e que deram início a todos os algoritmos, códigos e softwares que usamos na computação hoje. Isso tudo é coisa de preto, veio lá da África. Os povos dogons, da África Central, já conheciam o céu. Eles tinham conhecimento de um satélite que só foi conhecido pelo ocidente cem anos depois, com o telescópio Hubble. Isso é ciência, gente!
E são muitos os exemplos. O ferro exige muita tecnologia para ser manipulado e os africanos já manipulavam esse metal muito antes dos europeus. As pessoas africanas que foram escravizadas e trazidas para cá já conheciam tecnologia de agricultura e mineração. Os egípcios sabiam operar cérebro, olhos, fazer cesárea há muitos anos. Isso é África, isso é coisa de preto, isso é antes dos europeus invadirem e fazerem a palhaçada que fazem até hoje. O futuro da ciência é ancestral. (Fonte: Fundação Telefônica Vivo)
Tal ancestralidade pode ser vista também quando pensamos nos caminhos que Enedina abriu para que Sônia e outras tantas mulheres fizessem os seus próprios caminhos.
Falando nisso, espia só o episódio do podcast Vidas Negras dedicado à Enedina Alves Marques e à Sônia Guimarães:
O fato de sublinharmos os feitos inéditos de Enedina (1913-1981) e Sônia (1957) é um dos indicadores dos vários preconceitos pelos quais essas duas mulheres negras passaram. É indicador também do tanto que ainda precisamos avançar.
A voz do milênio
Poderíamos terminar com as canções de “Deus é Mulher”, mas destacamos o lançamento de “No Tempo da Intolerância”, álbum póstumo da incrível Elza Soares. Mas qual música escolher? Diante da dificuldade, recomendamos todas. Dá o play aí e ouça tudo. Você não vai se arrepender.
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Créditos
Equipe: Ana Clara Liberato Costa; Cailaine Vitória Paraguai dos Santos; Weder Ferreira e Higor Mozart
Financiamento: Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais | Projetos de Ensino - Ações Afirmativas - Edital Nº 28/2022.
Coordenação: Higor Mozart e Weder Ferreira