📸 Quilombolas em retrato inédito
“Eu costumo dizer que se o Censo é um retrato do Brasil, eu também quero estar nesse retrato. Eu não quero ficar de fora, eu sou brasileira1”.
Essa reivindicação, compartilhada pela socióloga e líder quilombola Givânia Silva, uma das diretoras da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), nos ajuda a contar que o IBGE revelou imagem inédita: pela primeira vez a população quilombola apareceu no retrato do Censo. Diante dívida histórica do Estado brasileiro, esse registro, ainda que tardio, é ato imprescindível para lastrear políticas públicas, processos de titulação e outras demandas que possam assegurar os direitos e modos de vida das populações quilombolas nos ambientes rurais e urbanos. Por esse motivo, em uma parceria entre os projetos Notícias do Espaço e Saravá, referências pretas!, reverberamos questões capturadas sobre a população quilombola e expandimos o tema através da indicação de materiais complementares.
Começamos com a reportagem em que Rafael Sanzio dos Anjos, geógrafo e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), destaca a incompletude da fotografia das comunidades quilombolas:
“Essa é uma primeira cartografia do IBGE. Podemos ter uma segunda, uma terceira e é lógico que isso deverá estar futuramente mais completo. Até porque nós estamos trabalhando com território de exclusão. São territórios que foram excluídos por cinco séculos. Não é no primeiro levantamento oficial que vamos ter todas as comunidades e todos os territórios étnicos. Seria pedir demais. Então é um processo. Acredito que o IBGE também tenha essa clareza” (Agência Brasil)
Embora esse seja o primeiro registro, é necessário sublinhar que a preocupação do IBGE vem desde o ano 2000. Também importante é ressaltar a existência de outras iniciativas de mapeamento empreendidas na academia, a exemplo do Projeto Geografia Afrobrasileira: Educação, Cartografia & Ordenamento do Território (Geoafro). Portanto, o resultado agora apresentado é reflexo de um processo histórico que mobilizou diversos atores, afirma Rafael Sanzio (Agência Brasil).
Seguimos para a matéria em que o IBGE esmiúça os resultados e informa a existência de 1,3 milhão de quilombolas distribuídos em 1.696 municípios. Para ler, é só clicar aqui.
Abaixo, uma síntese dos principais aspectos retratados:
“No Nordeste residem 68,19% dos quilombolas do país. A Bahia concentra 29,90% desta população e o Maranhão vem a seguir, com 20,26%. Juntos, os dois estados abrigam 50,16% da população quilombola do país.
O Censo 2022 encontrou 473.970 domicílios com pelo menos um morador quilombola.
Dos 5.568 municípios do Brasil, 1.696 tinham moradores quilombolas. Senhor do Bonfim/BA tinha o maior número de pessoas quilombolas (15.999), com Salvador/BA (15.897), Alcântara/MA (15.616) e Januária/MG (15.000) em seguida.
Foram identificados 494 Territórios Quilombolas oficialmente delimitados no país, que abrigavam 167.202 quilombolas. Assim, apenas 12,6% da população quilombola residia em territórios oficialmente reconhecidos. Entre estes territórios, o de Alcântara/MA tinha a maior população quilombola residente (9.344), seguido por Alto Itacuruçá, Baixo Itacuruçá, Bom Remédio/PA (5.638) e Lagoas/PI (5.042).
Na Amazônia Legal, o Censo 2022 encontrou 426.449 pessoas quilombolas, o que representa 1,6% da população desta região e quase um terço (32,1%) dos quilombolas do país” (Fonte: IBGE).
Parte das informações citadas aparecem representadas no mapa e no infográfico abaixo:
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Série Quilombos do Brasil da Folha de São Paulo. O primeiro episódio está disponível abaixo e aqui a playlist completa.
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Tereza de Benguela
Em 1700 nasceu uma mulher chamada Tereza em Benguela, região da África central, onde hoje é Angola. No Brasil, no Quilombo Quariterê (fronteira do Mato Grosso com a Bolívia), ela coordenou atividades econômicas, políticas e liderou a resistência contra a escravidão.
Em virtude de sua liderança e resistência, Tereza de Benguela simboliza as lutas das mulheres negras. O dia de sua morte, 25 de julho, foi instituído pela Lei Federal n° 12.987 como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Em 1994, a Viradouro trouxe o samba “Tereza de Benguela - uma rainha negra do Pantanal'. Para ouvir só clicar aqui.
O podcast Vidas Negras também dedicou um episódio à líder quilombola. Ouve aí:
Tem IBGE no ENEM
O IBGE preparou materiais voltados para quem está estudando para o ENEM. Vale a pena acessar:
Para finalizar destacamos edições em que o projeto Notícias do Espaço trouxe informações sobre o Censo 2022:
Obrigado por nos acompanhar até aqui : )
Até a próxima!
Créditos
Equipe Saravá: Ana Clara Liberato Costa; Cailaine Vitória Paraguai dos Santos; Weder Ferreira e Higor Mozart
Financiamento: Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais | Projetos de Ensino - Ações Afirmativas - Edital Nº 28/2022.
Coordenação: Higor Mozart e Weder Ferreira
Equipe Notícias do Espaço: Gabriel Merigui e Higor Mozart
Coordenação: Higor Mozart
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2023)
*As indicações de materiais não significam, necessariamente, endosso, mas sim sugestões que consideramos válidas para o debate. O conteúdo dos artigos, reportagens, vídeos, podcasts e demais mídias veiculadas é de inteira responsabilidade de seus autores e autoras.