Kabengele Munanga e Milton Santos
A série Heróis de Todo Mundo, do projeto A Cor da Cultura, retrata biografias de várias personalidades negras. No episódio dedicado a Milton Santos, o geógrafo foi interpretado por Kabengele Munanga, antropólogo e professor brasileiro-congolês.
A trajetória destes dois intelectuais, que apresenta pontos de convergência, se encontrou mais uma vez nas encruzilhadas da vida: no dia 2 de junho Kabengele Munanga se tornou o “segundo docente negro celebrado como Professor Emérito da FFLCH, tendo sido Milton Santos o primeiro”.
O brilhante trabalho do professor Kabengele Munanga, com mais de 150 publicações, foca em assuntos como racismo, políticas e discursos antirracistas, negritude, identidade negra versus identidade nacional, multiculturalismo e educação das relações étnico-raciais.
Entre as várias contribuições acadêmicas e militantes do professor Munanga estão seus estudos sobre as relações raciais no Brasil e sua participação nos debates para a construção das políticas afirmativas nas universidades, incluindo sua defesa do sistema de cotas no Supremo Tribunal Federal. Seu livro Negritude: Usos e Sentidos, publicado originalmente em 1985, é considerado uma referência importante tanto pela academia quanto pelo movimento negro. O livro de sua organização Superando o Racismo na Escola, publicado em 1999 pelo Ministério da Educação, foi o primeiro a introduzir a questão racial nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Jornal da USP)
Abaixo destacamos a entrevista que Lázaro Ramos realizou com Kabengele Munanga e seu filho, Bukassa Kabengele, que é ator e cantor.
Veja também: Ao receber título de Emérito, Kabengele diz que USP dobrou-se ao darwinismo social; em agressiva “fala do trono”.
Milton Santos: cidadão do mundo e geógrafo das quebradas
A Ocupação Milton Santos, do Itaú Cultural, inaugurada em 19 de julho, reúne mais de 150 peças (fotos, vídeos, livros, textos, etc) sobre o geógrafo. Espia só o teaser:
“Você já leu algum livro meu na escola?”
Essa foi a pergunta que Milton Santos fez para sua neta que, à época, tinha mais ou menos uns 9 anos. Vem ver essa história aqui narrada pela Nina Santos, a neta (e hoje pesquisadora) em questão:
Veja também: “Ser negro no Brasil hoje” - Texto de Milton Santos publicado na Folha de São Paulo, em 07 de maio de 2000.
O papel do intelectual público
E qual era, para Milton Santos, o papel do intelectual público? Quem nos ajuda nessa reposta é a geógrafa Maria Adélia Aparecida de Souza:
As questões raciais
No vídeo adiante, o geógrafo Billy Malachias chama atenção para a relação entre questões raciais na obra do intelectual. Já Itamar Vieira Júnior, geógrafo e escritor, destaca o legado miltoniano na construção de um outro mundo:
A Geografia
Já no vídeo abaixo, o foco são as contribuições de Milton para a Geografia:
Para quem não tiver a oportunidade de visitar a ocupação, que fica aberta até 8 de outubro em São Paulo e com entrada gratuita, pode acompanhar informações por aqui.
Além disso, é possível fazer o curso “Milton Santos: cidadão do mundo e geógrafo das quebradas” que passa pela trajetória socioespacial do intelectual e aborda os principais conceitos desenvolvidos em sua obra. Bora? É só vir aqui.
Veja também: Documentários baseados no pensamento de Milton Santos:
🎞️ Por uma outra globalização (2004)
🎞️ Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá (2006)
E olha este poema que Sergio Vaz dedicou ao geógrafo:
MILTONGRAFIA
No mapa mundi
ele Brota em Macaúbas
e colhe África onde se planta
Periferia.
Na superfície da pele
cor de petróleo -
terreno fértil
para estudar o passado
e entender o futuro-,
escorre o suor da
sabedoria.
O cérebro
fincado no mundo
são bússolas
que guiam escravos modernos
através dos Quilombos da Geografia.
Na face dois olhos
semiáridos de tanto regar
territórios devastados
pelo silêncio dos que não dormem
porque não comem,
e dos que vivem em banho-maria.
Na boca
um sorriso onde afiou suas lâminas
e destilou o verbo no silêncio da academia.
Ao leste do peito
solo de mil sonhos
o Professor e
topógrafo do sentimento,
colocou no mapa
o estado da utopia.Sergio Vaz
*Parte das informações sobre Milton Santos também apareceram nesta edição do projeto
.Intelectuais negras brasileiras
Recomendamos que você clique na imagem abaixo para ler a edição da revista Lutas Sociais que traz textos sobre Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento, Luiza Bairros, Thereza Santos, Maria de Lourdes Vale do Nascimento, Virgínia Bicudo, Antonieta de Barros, Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro e Patricia Hill Collins.
Para encerrar essa edição da Saravá, deixamos abaixo o vídeo citado no início. Obrigado pela atenção!
Sou um cidadão negro brasileiro!
Créditos
Equipe: Ana Clara Liberato Costa; Cailaine Vitória Paraguai dos Santos; Weder Ferreira e Higor Mozart
Financiamento: Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais | Projetos de Ensino - Ações Afirmativas - Edital Nº 28/2022.
Coordenação: Higor Mozart e Weder Ferreira